E ela, então, contou a história de como era o Natal na roça, só que, dessa vez, com detalhes inéditos, que eu anotei:
A árvore ia até o telhado, era muito grande. Aí fazia as caixinhas de papelão e colocava os doces dentro. As crianças faziam uma farra. Só as pequenas. As grandes a gente dava um brinquedo, tinha um pianinho de brinquedo... Ou dava um dinheiro. Eu dava camisa pra papai, vestido pra mamãe, presente pra minha tia. Pras crianças dela eu dava camiseta. Aí o marido dela perguntava: O que que eu vou ganhar? Aí eu fazia uma camisa pra ele, ele ficava todo feliz.
Fazia docinho de leite, bolo, doce de banana. Fritava uns pastéis.
Paula: Pastel de quê?
De doce de banana.
Eu: E colocava o pastel na cestinha?
Não. Cortava a massa, colocava o doce de banana que fazia dentro, fechava e fritava. Colocava os doces nas caixinhas.
As crianças pulavam pra cima quando ganhavam brinquedo e no dia seguinte ficavam brincando com as caixas.
Mamy: Fazia uns barquinhos de papel, cortava bolo e colocava dentro. Era muito bom. Ninho de guache... Colocava algodão nas pontas (tipo neve). Eu lembro dessas árvores. Agora é moleza, já vem tudo prontinho. Não tem nem que cortar a árvore no mato, nem fazer barquinhos... A gente ainda reclama de ir lá comprar!
A gente falava poesia:
No céu tem estrelinha piscando piscando
Papai diz que ela pisca me chamando
Piscando piscando
Ela pisca me chamando
Depois cantava também:
Natal Natal das crianças
Natal do menino Jesus
Blim blom blim blom blim blom...
Paula: O que você vai querer de Natal?
O que eu quero?
Paula: É, escolhe alguma coisa.
Ah, não sei... Eu quero aquela arvrinha de natal ali.
Eu: As caixas eram de papelão. Mas e os barquinhos?
Papelão. Papelão grosso. Aí fazia o barquinho e colocava papel picadinho dentro.
Eu: Papel de que cor?
Colorido. De toda cor. Forrava o barquinho e colocava o bolo.
Eu: Mas como pendurava?
A gente pegava uma linha e pendurava. Uma linha grossa.
Eu: De que cor era a linha?
Pode ser branca.
As crianças pulavam pra cima igual macaco! Cada um ganhava um barquinho. Era alegria pra eles! Camisa, blusa, short, eles levavam pra casa. Eu fazia calcinha (calça), shortinho e no dia seguinte eles tavam vestidos com elas.
A árvore ficava na minha casa. Ficava na sala. Enchia a lata de terra e plantava a árvore. Aí plantava uma mudinhas de mato em volta pra parecer que a árvore tava plantada no mato ainda.
Paula: Mas era lata de quê? Lata de óleo?
Não. De banha.
Fazia ninho de guaghe... (Pra minha mãe:) Elas tão querendo saber da árvore. Vamos fazer um pra elas?
Mamy: Vamos. Elas tão querendo fazer uma, né?
É, elas vão ficar curiosas até o dia de Natal :))
(Olhando pra árvore no banquinho) Ela tá acesa, toda vermelhinha. Tá muito piscando. Ela pisca, pisca, ela pisca me chamando. Quando papai comprar um avião ele vai te buscar estrelinha e trazer na palma da minha mão.
O que você vai colocar no meu chinelo?
Mais tarde eu pesquisei os versinhos no google, que originalmente são um pouco diferentes da versão da minha avó:
A Estrelinha
Vejo, à noite, uma estrelinha,
no céu, piscando, piscando...
Mamãe diz que ela, de longe,
pisca, pisca, é me chamando...
Quando crescer e papai
me comprar um avião,
vou te buscar, estrelinha,
na palma da minha mão.
(Martins d'Alvarez)
Um pouco depois desse dia, eu fiz esse 'projeto' para fazer uma árvore que se parecesse com a que a minha avó costumava fazer. O projeto, infelizmente, não se realizou no Natal do ano passado porque eu não tive tempo de separar os materiais e montar tudo, mas esse ano a versão nova da árvore há de sair!!
Projeto Árvore de Natal da Vóvi |
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